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quinta-feira, dezembro 20, 2012

Retrospectiva do Fim do Mundo (texto de Régis Sanches)

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Isabela Quintanilha Muniz Sanches nasceu em 14 de novembro de 2012, no Hospital da Unimed, em Macapá, bem próximo ao Marco Zero, que delimita o meio do mundo. Seu primeiro registro fotográfico se deu aos cinco segundos de vida. Agora, suas fotos estão espalhadas na internet. Com menos de 50 dias de existência, apesar de não ter participado do BBB e outras porcarias afins, já é uma “celebridade” virtual.

Ana Luiza Sanches tem 17 anos. Nasceu na Maternidade de São Sebastião, no Barro Preto, em Belo Horizonte. Ela foi clicada dez minutos após o nascimento. Em 1995, a internet ainda não era uma febre no Brasil, como hoje. No entanto, atualmente, Ana Luiza estuda Redes de Computadores no renomado CEFET-MG ( Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais).

Isabela, amapaense, e Ana Luiza, mineira, são irmãs e não se conhecem pessoalmente. A não ser pela rede digital, na qual Ana Luiza já é uma expert, embora Isabea ainda não balbucie nenhuma letra ou sílaba.

Como pai de ambas, devo lembrar que em 1961, quando nasci, em Macapá, não havia sequer rede de água e esgoto na cidade. A única “rede” existente naquela época era para dormir. E o sono era tranqüilo.

Digo isso, em retrospectiva, para constatar que sou de um tempo em que mulheres gostavam de homens, não havia cotas para negros, cada um se virava como devia ou podia, e os moleques brincaram nas ruas. Na chuva, no sol, nas árvores, ao sabor do vento.

Nas escolas ou nas ruas, quando os moleques se estranhavam, a porrada cantava na moleira. Se apanhasse, não valia reclamar em casa. Era se preparar para a revanche. E não havia essa estória de bullyng. Ora essa! Gordo era gordo, preto era preto, branco era branco, feio era feio, bicha era bicha. E todos vão continuar sendo assim. Estatutos não vão modificar a realidade ou melhorar a personalidade das pessoas.

A vida nas ruas era o supra-sumo nos efervescentes anos 60. Lembro que aprendi a falar escutando Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Janis Joplin. De quebra, temperei a audição com a erudição de Bach, Mozart e Beethoven.  Quando, enfim, me dei por gente, afinei o ouvido com o Led Zeppelin.

Não é como agora. As crianças e adolescentes já estão com impressões digitais gastas, de tanto arrastarem os dedos, freneticamente, nas telas de Ipods, Ipeds, Iphones, tablets e outras bugigangas do gênero.

Sem falar que irmãos e amigos já não têm conversas diretas, não se conhecem pessoalmente. Os jogos são virtuais, as relações, impessoais.

O mais grave – não no sentido do timbre acústico, é claro! - é a trilha sonora. As crianças de hoje são embaladas pelo que chamo de “As Sete Pragas do Egito”: Axé Music, Funk Carioca, Duplas Sertanejas, Sertanejo Universitário, Gospel & Evangélicos & Afins, e, por fim, os famigerados Brega e Melody. Não há ouvido humano que comporte tanta sujeira.

Faço esse contraponto para manifestar a convicção de que, apesar do coquetel techno-merda que é servido às novas gerações, o mundo não vai acabar nesta sexta-feira, em 21 de dezembro de 2012, como previu o Calendário Maia.

Por uma simples razão: o mundo acabou para Pablo Picasso, Albert Einstein, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Oscar Niemeyer. Mas permanece, indelével, o legado dessas – eles, sim – verdadeiras celebridades do Século XX.

Essa profecia Maia é uma piada. Como o Bug do Milênio, o fim dos tempos, o Juízo Final e tantas outras asneiras messiânicas.

A propósito, alguém pode confirmar se Adolf Hitler, Josef Stálin e Mao Tsé-Tung, enfim, reencarnaram? Ou se eles irão  ressuscitar  algum dia?; Ou se foram parar no Céu, se estão no Inferno ou permanecem no Purgatório?; Ou se aguardam serem julgados entre os vivos e os mortos da Guerra do Vietnam, do genocínio dos índios norte-americanos, do extermínio dos judeus e dos que tombaram pela fome na África???

Na verdade, devemos reconhecer que os Maias engendraram um calendário onírico e sinistro, com previsões baseadas em falsas premissas. Mas o que precisamos, realmente, é ter juízo.

No final das contas, no dia 22 de dezembro de 2012, que será um sábado radiante, vamos acordar da ressaca do dia anterior para um renovado porre de emoções. Pois os Maias entendiam de sacrifícios humanos, mas de profecias, nem Nostradamus!!!

Macapá, 20 de dezembro de 2012

Régis Sanches

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