Seguidores

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Cachorro quente frio (texto da @Cortezolli)

0

Saí para buscar um cachorro quente, como havia muitos pedidos na minha frente, foi preciso que eu sentasse e esperasse, uns 15 min o atendente falou. 

Como o tempo é totalmente diferente para quem espera e quem executa o serviço, para mim era como se uma eternidade se passasse e nela eu estava onipresente. Vi quando adolescentes corriam rua abaixo, depois outro grupo e outro. Na praça as famílias não se ativeram aos fatos. Notei quando algumas pessoas especulavam os motivos do corre corre. Observei o horário e a temperatura no relógio digital, passava da meia noite e dos 28ºC, sem brisa.

Foi quando um casal jovem (entre 20 a 25 anos) sentou ao meu lado, ela fez o pedido e receosa disse a ele quanto tempo levaria. Um silêncio voraz... Obviamente que não há como descrever a expressão dele, pois esta só ela conhecia. Cabisbaixa mexia nas unhas, enquanto ele apoiava os braços abertos no banco e olhava pra lugar nenhum.

Em seguida ele puxou assunto, e tentou sem sucesso fazê-la relembrar de uma outra noite em que haviam saído. Ela em tom de reprovação não conseguia recordar a tal sexta-feira, do tal lanche, dos tais amigos. Se ateve à sexta-feira. Ele irritado disse que era melhor esquecerem o assunto. Um segundo o suficiente para que ele tomasse fôlego e usasse qualquer motivo para começar uma discussão e "voilà":

Ele - Tu tens dinheiro para pagar teu lanche?
Ela - Depois te devolvo o dinheiro.
Ele - Não sei porque ainda me estresso contigo.

O barulho dos carros, das crianças na praça, dos estômagos vazios, não foram o suficiente para esconder aquela nuvenzinha preta sobre os dois. 

Fui acometida por uma sensação de revolta e cadê meu pedido que não chegava nunca. Queria muito sair daquele trágico ambiente. Daquela submissão e estupidez, cujo o ar havia contaminado.

Ao subir os degraus, um a um, lembrei que tive relacionamentos ruins, em que eu mais recebia do que retribuía e outros em que apenas perdi. Contudo, aqueles dois tinham a resposta do porquê da minha solidão ser tão bem aceita por mim atualmente, ou da minha preguiça em me relacionar verdadeiramente outra vez, não quero qualquer porcaria que foi criado pra ser escroto, não vou me submeter apenas porque quero o que ele dispõe entre suas pernas. Já não tenho tanto tempo assim para desperdiçar. 

Imaginei primeiramente que aquela garota era uma coitada, que não lhe falta beleza, poderia quem sabe ter optado por coisa melhor. Aquilo nem de longe é homem e ela, que mulher é ela? 

Um parente não muito próximo, se surpreendeu por eu não ter me casado e disparou contra mim, questionando minha sexualidade. Disse a ele apenas que não pego qualquer homem e não dei mais assunto. Obviamente que observei como ele tratava a esposa, a filha, como o filho tratava a namorada e aquilo não era universo para mim. Não conhecia aquela falta de modos em casa e não me preocupei com o que o matuto pensava a meu respeito. Havia somente formado opinião sobre ele.

Quando se tem irmãos é fácil aprender a se defender cedo, e sei ser grossa com sucesso quando necessário. Não quer dizer que não me magoe, que não tenha me apaixonado pelo cara errado, mas como digo, não estou em promoção, nem me achei no lixo e os tempos são outros.

Só acho muito triste as pessoas serem pisoteadas e continuarem assim, vítimas de suas escolhas mal sucedidas. Tudo bem que tem quem goste, mas educação é o mínimo que se espera nas relações sociais, isso nos difere dos animais, ou ao menos deveria. 

Depois disso perdi a fome. 

Hellen Cortezolli

No Response to "Cachorro quente frio (texto da @Cortezolli)"

Postar um comentário